Transtorno da Personalidade Paranoide

Quando o mundo parece sempre uma ameaça

Nadiely Oliveira

8/6/20253 min read

A woman standing in front of a window talking on a cell phone
A woman standing in front of a window talking on a cell phone

Transtorno da Personalidade Paranoide: quando o mundo parece sempre uma ameaça

Entre os diversos Transtornos da Personalidade descritos no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), o Transtorno da Personalidade Paranoide faz parte do Grupo A, caracterizado por padrões de comportamento considerados excêntricos ou estranhos. Neste texto, vamos explorar o que define esse transtorno, como ele impacta a vida de quem convive com ele, e quais são os caminhos possíveis de cuidado e tratamento.

O que é o Transtorno da Personalidade Paranoide?

De acordo com o DSM-5, o Transtorno da Personalidade Paranoide é marcado por um padrão pervasivo de desconfiança e suspeita dos outros, cujas intenções são interpretadas como malévolas, presente desde o início da idade adulta e em diversos contextos.

Para que o diagnóstico seja considerado, é necessário que pelo menos quatro dos seguintes critérios estejam presentes:

  • Suspeitas infundadas de que os outros querem prejudicá-lo, explorá-lo ou enganá-lo.

  • Preocupação com dúvidas infundadas sobre a lealdade ou confiabilidade de amigos e colegas.

  • Relutância em confiar nos outros devido a medo injustificado de que a informação seja usada contra si.

  • Interpretação distorcida de comentários ou eventos neutros como hostis ou depreciativos.

  • Tendência a guardar rancor persistentemente.

  • Percepção recorrente de ataques ao seu caráter ou reputação, reagindo rapidamente com raiva.

  • Suspeitas recorrentes e injustificadas de infidelidade do parceiro(a) sem base concreta.

Impactos na vida pessoal, social e profissional

Pessoas com esse transtorno geralmente apresentam comportamentos defensivos, distantes ou hostis, gerando dificuldade de ter/manter relações de intimidade, ainda que de forma velada. Essa postura desconfiada constante pode prejudicar suas relações interpessoais, criar rupturas familiares e gerar conflitos no ambiente de trabalho.

É comum que tenham dificuldade em aceitar críticas, interpretar mal atitudes neutras e atribuir intenções negativas a quase todas as interações sociais. Por exemplo, um comentário inocente sobre o atraso de um relatório pode ser interpretado como uma tentativa deliberada de humilhá-lo diante dos colegas.

Com o tempo, essas interpretações distorcidas podem isolar a pessoa e reforçar o ciclo de desconfiança, gerando sofrimento emocional e funcionalidade comprometida.

Exemplos do cotidiano

Imagine alguém que acredita firmemente que os colegas de trabalho estão conspirando contra ela, mesmo sem nenhuma evidência concreta. Esse indivíduo pode começar a evitar reuniões, deixar de compartilhar informações importantes, ou mesmo tentar sabotar os colegas, acreditando estar se defendendo de uma ameaça.

Outro exemplo: um parceiro amoroso que interpreta qualquer atraso ou mudança de rotina como sinal de traição, exigindo constantemente provas de fidelidade e invadindo a privacidade do outro.

Essas situações não apenas desgastam as relações, como também alimentam a angústia e o isolamento da própria pessoa.

Como lidar com alguém que apresenta esse padrão?

O conhecimento deste transtorno é importante também para quem convive, já que a convivência com pessoas que têm traços paranoides pode ser desafiadora. Algumas atitudes que podem ajudar incluem:

  • Evitar confrontos diretos ou julgamentos, pois isso pode aumentar a resistência e a suspeita.

  • Manter a comunicação clara e objetiva, sem ambiguidades que possam ser mal interpretadas.

  • Estabelecer limites saudáveis, sem abrir mão do respeito.

  • Oferecer apoio com empatia, sem alimentar as crenças persecutórias.

No entanto, é importante lembrar que o manejo adequado depende do grau de comprometimento e da abertura da pessoa para refletir sobre seus próprios padrões.

A importância da psicoterapia

O tratamento do Transtorno da Personalidade Paranoide pode ser desafiador, principalmente porque a desconfiança característica muitas vezes se estende até mesmo ao terapeuta. Ainda assim, quando há adesão ao processo, a psicoterapia pode oferecer importantes avanços.

Entre os objetivos terapêuticos estão:

  • Desenvolver consciência sobre os sentimentos, padrões de pensamento e comportamento.

  • Trabalhar a flexibilidade cognitiva, questionando interpretações automáticas e distorcidas.

  • Aprimorar habilidades sociais e de regulação emocional.

Em alguns casos, o uso de medicação pode ser indicado, principalmente quando há sintomas associados como ansiedade intensa ou sintomas depressivos, sempre sob acompanhamento psiquiátrico.

Conviver com padrões paranoides não significa, necessariamente, ter um transtorno (expliquei no artigo anterior diferença de traços da personalidade e transtorno da personalidade). Todos, em algum momento, podemos desconfiar ou nos proteger de possíveis ameaças. A diferença está na intensidade, rigidez e impacto que esse padrão causa na vida da pessoa.

Quando a desconfiança vira um filtro constante e distorcido sobre o mundo, afetando relações e gerando sofrimento, é importante buscar ajuda. A psicoterapia é um espaço seguro e acolhedor para revisar essas lentes com as quais se enxerga a realidade — e, com o tempo, abrir espaço para relações mais leves, seguras e verdadeiras.

Por Nadiely Oliveira

*Texto de caráter informativo, não substitui psicoterapia, para atendimento clínico clique no botão de Whatsapp

* Disponível para atendimento online e presencial (Natal/RN)

Referência:

American Psychiatric Association (1994). DSM-IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (4ª Ed.). Lisboa: Climepsi Editores. American Psychiatric Association (2002).